
Está morrendo a tradição?
O que é o Terceiro Tempo?
Algumas definições da internet:
· O Terceiro Tempo não é mais do que a continuidade da partida, já não no aspecto físico, técnico e tático, e sim nas relações interpessoais. Nele é compartilhado (pelo ganhador e o perdedor), um momento de alegria e de comunicação espetacular.
· É o tempo de reencontro com os adversários e o juiz depois da batalha. É o tempo de agradecimento mútuo por terem se ajudado a desfrutar de uma partida.
· Não é outra coisa senão a oportunidade de compartilhar um momento com a equipe contrária. É simples: é poder nos juntar, conversar e compartilhar com quem desfrutamos da partida. Não é nem mais nem menos importante que a partida, senão somente uma parte dela. É a forma de uns agradecer os outros pela oportunidade de desfrutar de uma partida dentro do campo.
· O Terceiro Tempo trás a tona muitas coisas, entre elas o assunto da socialização, o relaxamento depois do jogo, a oportunidade de analisar a partida, analisar o outro time, saber mais sobre o time com o qual jogamos, dar risada de alguma situação engraçada do jogo, fazer novos contatos e amigos, de passar somente um momento agradável como cereja do bolo de uma partida de Rugby.
Quando era infantil e juvenil o Terceiro Tempo era igual às festinhas na casa dos amigos, alguém levava bebidas, alguém levava comidas e todos nos juntávamos para comer, beber, conversar e confraternizar.
Dirigentes, técnicos e juízes participavam, até os pais e mães de alguns dos jogadores, fiz vários amigos de vários clubes, alguns perduram até hoje, a 6000 km de distancia.
Quando cresci um pouco mais a organização mudou, já tinha alguém encarregado de organizar o Terceiro Tempo, somente precisávamos dividir a despesa entre os jogadores. Até que um dia percebi que “alguém” não era uma entidade abstrata do espírito do rugby que organizava o Terceiro Tempo, eram os próprios jogadores: uma vez a primeira linha, outra a segunda e terceira e assim por diante.
Nos meus 25 anos de rugby já organizei muitos terceiros tempos além de muitos almoços e jantares para os jogadores e sempre o fiz com o prazer e a sensação de estar devolvendo para o rugby o que o rugby me dá.
Estou assistindo com bastante preocupação como esta tradição (que nunca foi muito forte nos anos que tenho aqui), está aos pouco se perdendo no Brasil (talvez pela falta de infra-estrutura dos clubes, talvez pela falta de alguém que desde os clubes a estimule):
· O time que vem de fora nem sempre fica para o Terceiro Tempo porque o “ônibus tem que voltar”
· O time que recebe simplesmente compra umas caixas de cerveja em um bar próximo do campo
· Ficam poucos jogadores (principalmente se perderam)
· Os dirigentes quase nunca participam
· Os juízes raramente aparecem
No ano passado participei de um Terceiro Tempo, onde havia 5 anfitriões e 4 jogadores do meu time. É verdade também que já participei de terceiros tempos espetaculares, com destaque para a recepção do BH Rugby, com feijão tropeiro e muita bebida.
É preciso que todo o ambiente do rugby reflita sobre a importância de termos Terceiro Tempo de uma forma que permita renovar e fazer perdurar o espírito do esporte, não somente com relação à recepção do time adversário, mas também com relação ao comprometimento dos jogadores.
Devemos fomentar a competição sadia de ter o melhor Terceiro Tempo do Brasil, não sei se cabe as federações e a CBRu tomar ações com relação a isto, porém quanto mais reflexão geremos com relação ao Terceiro Tempo mas resultados poderemos obter.
Para muitos, e não sem motivos, é o Tempo mais importante (para quem está começando, quando tiver mais de 10 anos de rugby vai saber do que estou falando).
É o tempo de fazermos amigos, de agradecimento por ter outro time do outro lado do campo, de acalmar e minimizar os choques dentro do campo. É o tempo de reconhecer os erros cometidos e de entender e/ou perdoar o adversário.
Para finalizar algumas dicas para que façamos “aquele” Terceiro Tempo acontecer:
· Os próprios jogadores devem organizar o Terceiro Tempo
· Os juízes, treinadores e dirigentes presentes devem participar
· Deve oferecer comida (para reduzir os efeitos do álcool)
· Juvenis não devem participar dos terceiros tempos do time adulto, caso participem devem ser respeitados e controlados pela equipe adulta
· O volume da música deve permitir o diálogo
· Ambos times devem estar presentes, o Terceiro Tempo faz parte do jogo
Me assusta quando se fala de profissionalismo no Rugby do Brasil, o profissionalismo tem acabado com o terceiro tempo em alguns lugares. Na Argentina existe uma guerra entre os defensores do amadorismo e o profissionalismo que já leva anos. Confesso que nunca entendi os que se opõem ao profissionalismo, porém agora de velho acho que estou começando a entender: eu não trocaria o Terceiro Tempo com meus amigos de anos por um terceiro tempo com melhores jogadores que eles pagos para jogar no meu time.
Mas este assunto rende outra matéria completa.
Bruno Alejandro Sobieski Chávez (Russo)
Jogador do Rio Branco Rugby Clube
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