
O rugby não deve ser visto apenas como um esporte. Trata-se de uma ciência do esporte que envolve toda uma complexidade de fatores que são fundamentais para um desempenho satisfatório.
Muitos praticantes desta modalidade esportiva se voltam exclusivamente ao aspecto físico e técnico não dando a devida importância para o social e o psicológico.
Por se tratar de um esporte coletivo existe uma autodependência que deve ser valorizada. Desta forma a integração é fundamental, sendo este um contexto onde não há espaço para vaidade, pois uma atitude excessivamente individualista pode comprometer o bom funcionamento do grupo e conseqüentemente o resultado do jogo.
Além disso, por este atributo social, coletivo, o estado emocional de um membro do grupo pode “contagiar” ou “contaminar” toda a equipe. Partindo de observações empíricas, os indivíduos que possuem a capacidade de “contagiar” e de “contaminar” possuem características comuns. Ambos partem de um mesmo objetivo, mas podem ser peças fundamentais para o estabelecimento de resultados diferentes (a vitória ou a derrota). Assim, um indivíduo motivado, equilibrado, empolgado, otimista/realista pode contagiar o grupo favorecendo atitudes positivas. Enquanto, uma pessoa carente de equilíbrio emocional durante um jogo pode contaminar o resto do grupo devido às consequências do seu comportamento, favorecendo o desequilíbrio emocional geral, comprometendo o resultado almejado.
Por se tratar de um grupo incentiva-se que sejam compartilhadas as dificuldades que surgirem, sejam elas referentes a questões que envolvem o esporte (treinos, jogos, etc.) bem como, problemas pessoais. Ressalta-se que uma equipe é composta por pessoas que tem histórias de vida distintas e que, por sua vez, lidam de formas diferentes com as adversidades. Assim, os indivíduos abertos à escuta devem ser éticos e assertivos, de forma que contribuam verdadeiramente para o bem-estar emocional de seu colega/amigo.
Além disso, algumas estratégias e técnicas cognitivo-comportamentais podem ser utilizadas para auxiliar os indivíduos a lidarem de uma forma adequada em situações de estresse e ansiedade excessiva. No cenário esportivo, particularmente do rugby, elas podem ser demasiadamente úteis para auxiliar no controle emocional e evitar atitudes anti-desportivas, caracterizadas por conduta física ou verbal incompatíveis com o espírito esportivo.
Duas técnicas extremamente simples podem ser utilizadas para beneficiar os praticantes de rugby, que são o treino em respiração diafragmática e o treino em relaxamento. O treino em respiração pode ser utilizado como etapa preliminar ao treino em relaxamento ou como etapa única. Nesta técnica, o esportista é treinado em padrões de baixas taxas de respiração, inspiração-expiração profundas e amplas e respirações essencialmente diafragmáticas. Esse padrão de respiração estimula o controle parassimpático sobre o funcionamento cardiovascular, alterando o ritmo cardíaco associado às fases inspiratória e expiratória de cada ciclo respiratório (Vera & Vila conforme citado por Guimarães, 2001). Esta técnica favorece o relaxamento e pode ser utilizada em situações de descontrole emocional, frequentemente observadas em jogos de rugby, evitando punições desnecessárias e consequentemente um resultado indesejável para o grupo.
Já o relaxamento progressivo é uma técnica que basea-se na premissa de que o corpo responde com tensão muscular aos pensamentos a aos eventos que provocam ansiedade e a maioria das pessoas não percebe quais músculos estão cronicamente tensos. A técnica de relaxamento progressivo consiste na aprendizagem de tencionar e logo relaxar os diversos grupos musculares de seu corpo e diferenciar as sensações de tensão e relaxamento. Uma vez que tal aprendizagem se tenha convertido em hábito, é possível identificar rapidamente nas situações de cada dia, quando está tencionando mais do que o necessário. Esta identificação será o sinal para automaticamente relaxar. Deve ser praticado diariamente (pelo menos uma vez ao dia) com o propósito de auxiliar na redução da tensão diária e principalmente àquela que antecede uma competição.
Instruções
Respiração diafragmática
1- Recomenda-se a seguinte posição: deite no chão, em colchonete ou toalha (de modo confortável). Flexione os joelhos e afaste os pés mais ou menos uns vinte centímetros, com os dedos voltados ligeiramente para fora, com a coluna reta.
2- Verifique a tensão do seu corpo.
3- Coloque uma das mãos no abdômen e a outra sobre o tórax.
4- Inspire lenta e profundamente pelo nariz, expandindo o abdômen e empurrando a mão para cima até onde for confortável. O tórax deverá mover-se apenas um pouco e somente junto com o abdômen.
5- Quando você já estiver treinado com a etapa anterior, inspire pelo nariz e expire pela boca, emitindo um som suave, enquanto sopra suavemente para fora. A boca, a língua e os maxilares devem estar relaxados. O abdômen sobe e desce devido às respirações prolongadas e profundas.
6- Tempo: de cinco a dez minutos, uma ou duas vezes ao dia.
7- Procure comparar a tensão que você sentia ao iniciar o exercício com a sensação final
(Agora você deve estar bem relaxado).
8- Quando a técnica já estiver familiarizada, pode praticar durante o dia sempre que perceber que está tenso.
Relaxamento Progressivo
1- Fique numa posição confortável e relaxe o corpo.
2- Agora, feche a mão direita, cada vez com mais força, examinando a tensão enquanto realiza esse movimento. Mantenha-a fechada e observe a tensão na mão e no antebraço.Agora relaxe. Sinta o relaxamento na sua mão direita e perceba o contraste coma tensão, relaxe e sinta a diferença. Repita todo o processo com a mão esquerda, depois com as duas mãos ao mesmo tempo.
3- Agora flexione os cotovelos e tencione os bíceps. Tencione o máximo que puder e depois relaxe.
4- Concentre sua atenção na cabeça, enrugue a testa o máximo que puder. Relaxe-a e deixe-a ficar lisa. Imagine a testa e o couro cabeludo ficando lisos e descansados. Agora franza as sobrancelhas e perceba a tensão espalhando-se pela testa. Solte. Deixe as sobrancelhas novamente relaxadas. Agora, feche os olhos e aperte-os. Perceba a tensão. Relaxe os olhos. Mantenha-os suave e confortavelmente fechados. Agora aperte os maxilares, morda com força, repare na tensão em todo o maxilar. Relaxe os maxilares. Quando os maxilares estão relaxados, os lábios permanecem ligeiramente afastados. Perceba o contraste entre tensão e relaxamento. Pressione a língua no céu da boca. Relaxe. Pressione os lábios, enrugando-os formando um “o”. Relaxe os lábios. Observe que a testa, o couro cabeludo, os olhos, os maxilares e os lábios estão relaxados.
5- Incline a cabeça para traz o máximo que puder sem sentir desconforto e observe a tensão, gire-o para a esquerda. Endireite a cabeça e incline-a para frente, pressionando o queixo contra o tórax. Sinta a tensão na garganta, na parte de traz do pescoço. Relaxe e retorne a cabeça a uma posição confortável. Agora encolha os ombros. Mantenha a tensão enquanto afunda a cabeça entre os ombros. Relaxe os ombros. Deixe-os soltos e sinta o relaxamento espalhando-se pelo pescoço, garganta e ombros.
6- Deixe todo o seu corpo relaxado. Sinto o conforto e o peso. Agora inspire e encha completamente os pulmões. Prenda a respiração. Perceba a tensão. Agora expire, deixe o tórax ficar solto, deixe o ar sair. Continue relaxando, respirando livre e suavemente. Repita algumas vezes, observando que a tensão abandona o seu corpo enquanto você expira.
7- Contraia as nádegas e as coxas. Flexione as coxas forçando os calcanhares para baixo, o máximo que puder. Relaxe e sinta a diferença. Agora incline os dedos dos pés para baixo, tencionando a barriga da perna. Sinta a tensão. Relaxe. Agora incline os dedos dos pés na direção dos joelhos, criando tensão na “canela” da perna. Relaxe novamente.
8- Relaxe os pés, tornozelos, barriga da perna, canela, joelhos, coxas e nádegas. Deixe o relaxamento se espalhar até o estômago, a região inferior das costas e o tórax. Solte-se cada vez mais. Sinta o relaxamento nos ombros, braços e mãos. Experimente a sensação de relaxamento no pescoço, maxilares e em todos os músculos faciais.
Observações:
· Dê uma nota para sua tensão, numa escala de 0-10, antes de fazer o relaxamento e após o término do exercício para que possa perceber o quanto estava tenso e quanto relaxou.
· Enquanto estiver fazendo o exercício, veja em que partes de seu corpo existe mais tensão. Cada pessoa tem suas zonas especiais, onde se acumula mais tensão que as outras. Desta forma, concentre-se mais nestas partes, fazendo mais repetições.
· Os exercícios devem ser realizados com freqüência, pois alguns benefícios são imediatos, mas os efeitos profundos do exercício só podem ser totalmente reconhecidos após semanas e meses de prática constante.
Existem diversas evidências científicas sobre os benefícios da utilização destas técnicas. Assim, acredita-se que praticantes de rugby devem lançar mão destes recursos para melhorar seu desempenho no campo, trazendo equilíbrio e autocontrole para a prática esportiva.
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