
Sale Sharks, Newcastle Falcons e Leeds Carnegie revelam o declínio do rugby profissional no norte inglês
A maré está contra o rugby union do norte da Inglaterra. Os clubes profissionais da região vão mal, e a região que outrora venceu os All Blacks hoje leva públicos escassos aos estádios da Premiership. Alastair Eykyn, da BBC, abordou a questão em artigo.
Tradicionalmente, a região chamada de Norte da Inglaterra compreende Lancashire (onde se localizam as cidades de Liverpool e Manchester), Yorkshire (onde fica Leeds), Humber, Cumbria e Nordeste (North East, onde fica Newcastle). Trata-se de uma região com mais de 14 milhões de habitantes, um dos centros industriais e mineradores mais importantes da Inglaterra desde o século XIX, quando os primeiros clubes de futebol e rugby foram formados.
O rugby se tornou um esporte muito popular no norte, com muitos dos times com fortes vínculos com o proletariado local, o que levou à maioria dos clubes da região ser favorável à remuneração dos atletas (o que levou ao profissionalismo), no século XIX. Foi justamente esse movimento que levou, em 1895, ao cisma entre rugby union (amador) e rugby league (profissional), com a maior parte dos clubes de rugby de Lancashite, Cumbria, Yorkshire e Humber terem migrado para o League. Na mesma época, o futebol já havia ganho muita popularidade, e clubes como Liverpool, Everton, Manchester United, Manchester City, Newcastle United, Sunderland, entre dezenas de outros, terem crescido e ganhado legiões de torcedores, muito superiores às do rugby.
Apesar da grande concorrência, o rugby union amador se manteve forte no norte, sobretudo no extremo norte (Nordeste), onde os clubes assumiram um caráter comunitário muito forte, e se tornaram famosos pelas excelentes categorias de base. O auge foi entre as décadas de 70 e 90, quando o Norte da Inglaterra se tornou um espoente do esporte, formando inclusive uma seleção própria (North West Counties, em 1972, e The North, em 1979) que bateu por duas vezes os All Blacks (16 x 14, em 72; 21 x 9, em 79), com craques como Bill Beaumont, John Carleton, entre outros.
Alguns clubes ganharam grande projeção nacional: Newcastle Falcons (antigo Gosforth), campeão da Premiership em 1997-98 e da Copa da Inglaterra 4 vezes (em 1976, 1977, 2001 e 2004), tendo formado recentemente Jonny Wilkinson; o Sale Sharks (da Grande Manchester), campeão da Premiership em 2005-06; e o Leeds Carnegie, campeão da Copa da Inglaterra em 2005. Hoje, são justamente esses 3 clubes os únicos representantes do Norte na Aviva Premiership.
Na Super League (Rugby League), 11 dos 14 times são do Norte. E na Premier League (futebol), 10 dos 20 clubes são do Norte. Para piorar a situação do union nortista, Sale Sharks, Newcastle Falcons e Leeds Carnegie são os 3 últimos colocados, e 1 será rebaixado. No RFU Championship (2ª divisão profissional), os 2 únicos times do norte (Rotherham Titans e Doncaster Knights) passaram longe da promoção. Pode-se acrescentar ainda que as médias de púbiico de Sharks, Falcons e Carnegie são muito baixas (entre as piores da liga), indo de 4 a 7 mil pessoas por jogo.
Brian Ashton, ex-técnico da Inglaterra, apontou que o sucesso alcançado por Newcastle e Sale quando foram campeões ingleses foi "comprado", isto é, veio pelos investimentos pesados que os dois clubes receberam. Quando os investimentos caíram, pelo retorno de público abaixo do esperado (dada a forte competição de outros esportes), os times deixaram de se destacar. No entanto, se o rugby union profissional (o espetáculo de massas) vai mal, o rugby comunitário vai muito bem, e continua a atrair um grande número de crianças e a formar muitos jogadores. O desafio está em segurar os grandes nomes nos clubes do Norte. Para Fran Cotton, a RFU necessita de novas e inventivas estratégias para remodelar o rugby profissional no norte inglês. Os clubes nortistas precisam de meios para competir com os clubes do centro e do sul, que possuem fortes bases de torcedores e apoio financeiro.
Uma das possibilidades citadas no artigo da BBC é descentralizar os jogos da seleção inglesa de Twickenham. Enquanto franceses, italianos, australianos, neozelandeses e sul-africanos não medem esforços para suas seleções jogarem em diversas cidades (sobretudo nos amistosos), os ingleses mantém o time nacional preso a Londres. O sucesso que a seleção do norte teve no passado, atraindo públicos imensos e gozando de apelo na mídia, não pode ser esquecido. O Norte não deixou de gostar do rugby union.
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